Leandro Staudt
O horário de verão sempre gerou divergências entre os brasileiros. Como está revogado desde 2019, o tema volta aos debates todos os anos. A mudança na hora ocorreu pela primeira vez em 1931. O decreto número 20.466, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, determinou que todos os relógios no Brasil deveriam “ser avançados, de uma hora, às 11 horas (hora legal) do dia 3 de outubro”.
O objetivo do governo foi economizar energia elétrica. A troca de horário no verão já ocorria em outros países. Naquele sábado de 1931, além de mexerem nos ponteiros dos relógios, brasileiros celebraram em muitas cidades o primeiro ano da Revolução de 1930, que alçou o gaúcho Getúlio Vargas à presidência da República.
É claro que a mudança gerou elogios e críticas. O jornal carioca A Noite publicou que as “lojas fecharão com o dia claro” e “os estômagos darão horas antes do tempo”. No primeiro dia, demorou o ajuste de muitos relógios em áreas públicas.
Em Porto Alegre, o jornal A Federação criticou alguns comerciantes que, na primeira semana, exigiam a entrada dos funcionários no novo horário, mas não os liberavam mais cedo. Muitos estavam ficando uma hora a mais nas lojas.
O comércio foi o maior beneficiado pelo horário de verão, já que fechava as portas antes do anoitecer. Em relatório oficial, no Rio de Janeiro, o consumo de energia elétrica caiu 6% nos últimos três meses de 1931. Nas lojas, a redução chegou a 20%.
Os donos de cinemas do Rio de Janeiro reclamaram. O horário afugentou o público das 20h e reduziu a receita das 22h. Ninguém mais sentava para jantar às 19h, transferindo a refeição para as 20h.
O horário de verão ficou em vigor por seis meses, até 31 de março de 1932. Cogitaram no governo a prorrogação. Em relatório, o Observatório Nacional ponderou que haveria sempre “uma divergência inevitável entre a hora oficial e a hora solar” e não podia decidir com segurança se o adiantamento da hora “corresponde ou não às aspirações gerais da Nação”.
Em 3 outubro de 1932, o governo Vargas voltou a adotar o horário de verão, mas entrou em vigor a partir da 0h. A troca às 11h, no ano anterior, gerou problemas em serviços ferroviários e telegráficos.
Entre 1931 e 2019, o horário teve idas e vindas no Brasil. Será que voltará?