Conheça protocolo de segurança da Fiocruz para evitar ocorrência com bala perdida

A Fiocruz é referência mundial em saúde, pesquisa e tecnologia, com mais de 120 anos de história. Fundada em 1900 como Instituto Soroterápico Federal, tornou-se um pilar na produção de vacinas, soros e no combate a epidemias. Apesar de sua importância transcender fronteiras, a Fundação convive com a insegurança de estar cercada por comunidades dominadas pelo crime organizado. Para tentar evitar ocorrências com bala perdida, a instituição conta com protocolos de segurança e plano de contingência para evacuação. Nesta quarta-feira, após uma operação policial em Manguinhos, agentes ingressaram na área do campus à procura de criminosos em fuga. Uma funcionária foi ferida por estilhaços, após uma janela ser atingida por um disparo.

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Segundo a Fiocruz, durante a troca de tiros entre os policiais que estavam no campus e criminosos do outro lado da margem do rio, trabalhadores tiveram que ficar agachados ou deitados embaixo de suas mesas. Os visitantes que estavam no Museu da Vida Fiocruz tiveram que se abrigar em locais seguros até que pudessem ser conduzidos para fora do campus.

Na linha do tiro

O Campus Manguinhos-Maré ocupa uma área de aproximadamente 800 mil metros quadrados, situada entre duas comunidades controladas por facções rivais: Manguinhos e Vila do João. Enquanto Manguinhos é dominada por integrantes do Comando Vermelho, a Vila do João, que faz parte do Complexo da Maré e é separada da Fundação pela Avenida Brasil, está sob o controle do Terceiro Comando Puro (TCP).

Localização da Fiocruz — Foto: Agência O Globo / Editoria de Arte

Por ficar na linha do tiro em inúmeras ocasiões, a Fiocruz já sofreu dezenas de episódios envolvendo balas perdidas. Em 2023, um funcionário terceirizado foi atingido por uma bala nas imediações do Pavilhão Carlos Chagas e Núcleo de Saúde de Trabalhador da Fiocruz. Na ocasião, não havia operação policial na região.

Em 2017, o prédio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) foi atingido por uma bala perdida. O tiro atravessou a janela e a porta de uma das salas de aula do segundo andar do edifício enquanto policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) realizavam uma operação na comunidade de Manguinhos. Naquele mesmo ano, um funcionário encontrou o projétil em uma sala do 3º andar do prédio em outra ocasião.

Para tentar reduzir o risco para os funcionários, a Fundação possui um plano de segurança e de contingência para evacuar os mais de 200 prédios do campus em caso de conflitos armado.

Para assegurar que todos saibam a situação do campus, a administração compartilha informativos com o nível de segurança e a principal orientação para o momento. Nesta quarta-feira, a Fundação acionou o nível 3 de segurança com o alerta para não sair das dependências dos prédios. O plano de contingência foi acionado e, posteriormente, 2.346 pessoas evacuaram de ônibus de forma emergencial.

Além disso, a Fiocruz possui planos para blindar alguns edifícios do campus. Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador Juliano Lima afirmou que a Escola Nacional de Saúde Pública possui anteparo balístico desde os anos 2000. A informação foi divulgada na mesma época em que a Fundação publicou um edital para blindar a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e o Laboratório de Pesquisas Clínicas do Instituto Nacional de Infectologia.

Na justificativa apresentada em 2018, a Fiocruz argumentou que decidiu implementar a blindagem após a escola e o laboratório “receberem disparos de arma de grosso calibre”. Questionada, a Fiocruz ainda não informou se a blindagem foi realizada.

Janela atingida por um tiro na Fiocruz — Foto: Reprodução

Papel na pandemia

Todas as medidas de segurança foram adotadas para proteger funcionários e alunos que mantêm em funcionamento uma instituição fundamental para o país. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, a Fiocruz desempenhou um papel crucial. A instituição produziu informações epidemiológicas por meio do InfoGripe e do Observatório Covid, além de participar ativamente da análise e produção de vacinas. A Fundação também monitorou indicadores como a ocupação hospitalar, o número de casos e de óbitos.

Graças a sua contribuição na produção de imunizantes, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) ficou entre os 15 maiores produtores mundiais de vacinas para países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022. O dado foi divulgado em uma edição do Relatório Global do Mercado de Vacinas, realizado pela autoridade sanitária internacional com base nos números de 2021.

Campus com 800 mil metros quadrados

O campus Manguinhos-Maré é dividido em duas partes. No lado da Maré, estão localizados importantes polos de saúde e pesquisa, como o Biobanco Covid-19, o Centro de Pesquisa e o prédio-sede, que abriga setores de várias unidades. Lá estão, por exemplo, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), a Casa de Oswaldo Cruz (COC) e a Presidência. Também no lado da Maré está a sede da Fundação de Apoio à Fiocruz (Fiotec).

Em Manguinhos, situa-se o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV), do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos); os pavilhões do Instituto Oswaldo Cruz (IOC); e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). Além disso, lá estão o Castelo Mourisco, o Museu da Vida e a Biblioteca de Manguinhos, coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict).

Ainda em Manguinhos, estão localizadas as sedes do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB), do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), além de almoxarifados e o Laboratório de Produtos Naturais de Farmanguinhos.

Operação

Nesta quarta-feira, um suspeito morreu e três ficaram feridos durante uma operação da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), da 21ª DP (Bonsucesso) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Uma funcionária da Fiocruz foi ferida por estilhaços após uma janela da sala de Automação, de Bio-Manguinhos, fábrica de vacinas da instituição, ser atingida por um tiro.

A fundação acusou a polícia de ter agido de forma arbitrária e, em nota, afirmou que agentes entraram “descaracterizados e sem autorização no campus Manguinhos-Maré”.

— A instituição vive recorrentemente situações de risco em virtude dos conflitos armados que ocorrem no seu entorno, mas é a primeira vez que ocorreu o ingresso, sem comunicação e sem autorização, de agentes da Polícia Civil no campus de Manguinhos. A troca de tiros colocou em risco a vida de trabalhadores, estudantes e usuários dos nossos serviços — disse, nesta quarta-feira, o diretor-executivo da Fiocruz, Juliano Lima.

Já a Polícia Civil afirmou que bandidos teriam acessado o campus da fundação, e as equipes se deslocaram à instalação. Segundo a corporação, o disparo que atingiu ao menos um dos prédios da fundação partiu dos criminosos.

— Causa muita estranheza acusações maldosas contra os policiais, dado o histórico de ocorrências com traficantes que buscam abrigo em prédios públicos, incluindo escolas e unidades de saúde, bem como a própria Fiocruz, onde isso já havia ocorrido em situações anteriores — disse o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.

Operação em Manguinhos nesta quarta-feira — Foto: Agência O Globo / Gabriel de Paiva

Dois funcionários da Fiocruz foram levados para a 21ª DP para prestar depoimento. De acordo com o Bom Dia Rio, da TV Globo, eles foram liberados.

O que ocorreu hoje na Fiocruz foi muito grave. A instituição vive recorrentemente situações de risco em virtude dos conflitos armados que ocorrem no seu entorno, mas é a primeira vez que ocorreu o ingresso sem comunicação e sem autorização de agentes da polícia civil no campus de Manguinhos. A troca de tiros colocou em risco a vida de trabalhadores, estudantes e usuários dos nossos serviços — afirmou o diretor-executivo da Fundação, Juliano Lima.

Segundo a corporação, o disparo de arma de fogo que atingiu ao menos um dos prédios da fundação partiu dos criminosos.

— Causa muita estranheza acusações maldosas contra os policiais, dado o histórico de ocorrências com traficantes que buscam abrigo em prédios públicos, incluindo escolas e unidades de saúde, bem como a própria Fiocruz, onde isso já havia ocorrido em situações anteriores — afirma o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.

Segundo a Fiocruz, um dos funcionários levados pela polícia era vigilante fazia e fazia trabalho de desocupação e interdição da área como medida de segurança para os trabalhadores, alunos e demais frequentadores do campus. A fundação disse que “não tem informação sobre as alegações” de que ele estaria ajudando criminosos em fuga.

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